domingo, 18 de dezembro de 2011

Natal ...

Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Stou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

(Notícias Ilustrado, n.º 29, 30 de Dezembro de 1928)


A todos os frequentadores deste cantinho, mas especialmente àqueles que trocam conhecimentos comigo no dia a dia deixo os votos de um 



BOM NATAL

e ... boas leituras!

Prémio Pessoa 2011 - Eduardo Lourenço

Eduardo Lourenço distinguido com o Prémio Pessoa 2011

Eduardo Lourenço distinguido com o Prémio Pessoa 2011

2011-12-16
O ensaísta e filósofo Eduardo Lourenço foi distinguido com o Prémio Pessoa 2011, anunciou hoje o presidente do júri, Francisco Pinto Balsemão, no Palácio de Seteais, em Sintra.
Uma das razões da escolha do júri foi a recente reedição, pela Fundação Caloustre Gulbenkian, da obra completa de Eduardo Lourenço, num total de 38 volumes de ensaios político filosóficos escritos entre os anos de 1945 e 2010.
Nascido em 1923 em São Pedro do Rio Seco, no distrito da Guarda, partiu para França em 1949, onde se encontra radicado até hoje, mas manteve sempre uma forte ligação a Portugal, escrevendo várias obras sobre a sociedade portuguesa.
Escreve o júri que "Eduardo Lourenço é um português de que os portugueses se podem e devem orgulhar. O espírito de Eduardo Lourenço foi sempre reforçado pela sua cidadania atenta e atuante. Portugal precisa de vozes como esta. E de obras como esta", pode ler-se na ata da reunião.
Este ano na sua 25ª edição, o Prémio Pessoa, no valor de 60 mil euros, é uma iniciativa do jornal Expresso com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, e destina-se a reconhecer pessoas de nacionalidade portuguesa que protagonizaram uma intervenção relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do país. 
júri do Prémio Pessoa 2011 é constituído por: Francisco Pinto Balsemão (Presidente); Fernando Faria de Oliveira (Vice-Presidente); António Barreto; Clara Ferreira Alves; Diogo Lucena; João Lobo Antunes; José Luís Porfírio; Maria de Sousa; Mário Soares; Miguel Veiga; Rui Magalhães Baião.
Lista de todos os premiados desde a primeira edição, em 1987:


1987 - José Mattoso

1988 - António Ramos Rosa

1989 - Maria João Pires

1990 - Menez

1991 - Cláudio Torres

1992 - António e Hanna Damásio

1993 - Fernando Gil

1994 - Herberto Helder

1995 - Vasco Graça Moura

1996 - João Lobo Antunes

1997 - José Cardoso Pires

1998 - Eduardo Souto Moura

1999 - Manuel Alegre e José Manuel Rodrigues

2000 - Emanuel Nunes

2001 - João Bénard da Costa

2002 - Manuel Sobrinho Simões

2003 - José Joaquim Gomes Canotilho

2004 - Mário Cláudio

2005 - Luís Miguel Cintra

2006 - António Câmara

2007 - Irene Flunser Pimentel

2008 - João Luís Carrilho da Graça

2009 - D. Manuel Clemente

2010 - Maria do Carmo Fonseca

2011 - Eduardo Lourenço

[Infromações retiradas daqui:  http://livros.sapo.pt/noticias/artigo/104353.html  ]

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

domingo, 27 de novembro de 2011

FADO - Património Imaterial da Humanidade.

Amália cantou poemas de poetas portugueses e assim os divulgou: Camões, David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello e este de Alexandre O'Neill.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CANTIGAS SATÍRICAS


A nível da temática nacional poderemos destacar:
                   
                   - decadência do Clero;
                  - traição dos cavaleiros (muitas cantigas satíricas fizeram o comentário indignado ou humorístico à traição dos cavaleiros na guerra que opôs os cristãos aos muçulmanos que serviram os reis de Granada. Em 1264 os muçulmanos desde Cádis e Xerez até Múrcia revoltaram - se contra os cristãos. A insurreição era para temer, pois que de África tinham vindo fortes contingentes de tropa em auxílio dos rebeldes. Os cristãos temiam sobretudo os ginetes, cavaleiros oriundos do deserto, cuja mobilização e audácia deixaram de resto um eco na linguagem popular.
  O rei Afonso X, homem de grande cultura, mas de fraco poder combativo, pediu ajuda aos nobres para a contenção da rebelião. Porém, muitos ricos - homens e infanções, em vez de o ajudarem com os seus cavaleiros, faltaram ao seu dever de vassalos. Não admira, pois, que o rei se sentisse traído. Ele próprio e outros trovadores dirigiram violentos sirventeses contra os traidores. Também não admira que os muçulmanos tenham derrotado os cristãos.
                  - decadência da fidalguia ( a fidalguia ao abrigo dos seus forais, que lhes garantiam as liberdades protegidos pelos reis, buscavam abater a Nobreza de sangue, os centros de vida  burguesa prosperavam enquanto as classes privilegiadas, os infanções e até ricos homens, vegetavam, necessitando de acostar - se à munificência régia e até mesmo à generosidade dos municípios. Os infanções são os mais atingidos. O exemplo mais acabado é o do cavaleiro famélico cujas refeições demasiado frugais ou até inexistentes revelam à evidência a grave crise económica por que passavam as classes nobres. Gil Vicente, no séc. XVI, tratará ainda, de forma penetrante, o escudeiro faminto, mas gabarola que só sai de noite a fazer serenatas, para não ser vista a sua roupa rota e velha, mas mesmo assim mantendo criados ao seu serviço, na tentativa de aliciar raparigas com algumas posses para, casando com elas, sobreviver ("Foi um dia Lopo jograr").
          - entrega dos castelos ao conde de Bolonha (estas sátiras referem- se à traição dos alcaides que, apesar da fidelidade jurada ao rei D. Sancho II durante a guerra civil que o opôs ao irmão, futuro D. Afonso III, entregaram os castelos ao Bolonhês.
          - a polémica entre trovadores fidalgos e jograis;
          - ridicularização do amor cortês ("Ai ! Dona fea, foste- vos queixar"-  Joan Garcia de Guilhade);
          - escândalos sociais;
          - desconcerto do mundo ( reflexão crítica, penetrada de amargura, suscitada pela decadência de costumes, o que se traduz numa visão pessimista e desencantada : é o tema do "mundo às avessas", em que a mudança é sempre interpretada para pior:( "Vejo eu as gentes andar revolvendo" - Pero Mafaldo;  "Amigos, cui'eu que Nostro Senhor" - Martim Moia).

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Direi-vos que mi aveo, mia senhor,
i logo quando m'eu de vós quitei:
houve por vós, fremosa mia senhor,
a morrer; e morrera... mais cuidei
     que nunca vos veeria des i
     se morress'... e por esto nom morri. 

Cuidand'em quanto vos Deus fez de bem
em parecer e em mui bem falar
,morrera eu; mais polo mui gram bem
que vos quero, mais me fez Deus cuidar 
     que nunca vos veeria des i 
     se morress'... e por esto nom morri.

Cuidand'em vosso mui bom parecer
houv'a morrer, assi Deus me perdom,
e polo vosso mui bom parecer
morrera eu; mais acordei-m'entom 
     que nunca vos veeria des i 
     se morress'... e por esto nom morri. 

Cuidand'em vós houv'a morrer assi!
E cuidand'em vós, senhor, guareci!

Rui Queimado

A dona que eu amo ...

A dona que eu am'e tenho por senhor
amostrade-mi-a, Deus, se vos en prazer for,
     senom dade-mi a morte.

A que tenh'eu por lume destes olhos meus
e por que choram sempr', amostrade-mi-a, Deus,
     senom dade-mi a morte.

Essa que vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ai, Deus!, fazede-mi-a veer,
     senom dade-mi a morte.

Ai Deus! que mi a fezestes mais ca mim amar,
mostrade-mi-a, u possa com ela falar,
     senom dade-mi a morte.

Bernal de Bonaval

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Passou o outono ...

Passou o outono já, já torna o frio...
- Outono de seu riso magoado.
Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado...
- O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando,
E, debaixo das águas fugidias,
Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?
- E, refratadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...

Camilo Pessanha

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um Auto de Gil Vicente

Drama histórico da autoria de Almeida Garrett, representado pela primeira vez em agosto de 1838, no Teatro da Rua dos Condes, e publicado posteriormente em volume. No prefácio teórico do autor, este debate o problema do declínio da arte dramática em Portugal e defende a urgência de se fazer ressuscitar o teatro nacional, projeto a que a obra se encontra concretamente ligada: "o drama de Gil Vicente que tomei para título deste não é um episódio, é o assunto mesmo do meu drama; é o ponto em que se enlaça e do qual se desenlaça depois a ação; (...) Mas eu não quis só fazer um drama, sim um drama de outro drama, e ressuscitar Gil Vicente a ver se ressuscitava o teatro".
Nesta peça, evoca-se a corte de D. Manuel I e as duas grandes individualidades literárias que nela evoluíram: Bernardim Ribeiro (representante da poesia aristocrática) e Gil Vicente (defensor do teatro). Garrett conseguiu, assim, a proeza de abordar o Teatro através do teatro, tendo como pano de fundo os ensaios para a peça Cortes de Júpiter, escrita por Gil Vicente para celebrar a partida da Infanta D. Beatriz para Saboia, onde se casaria com Carlos III.

A peça é dividida em três atos, sendo que cada um se desenrola num espaço diferente. O primeiro passa-se em Sintra onde Pero Çafio, um dos frequentes atores das peças de Gil Vicente, ensaia a sua participação nas Cortes de Júpiter. É então que surge Bernardim Ribeiro a quem Çafio confidencia que durante a representação, uma moura de nome Taes, envergando uma máscara, entregaria um anel a D. Beatriz. Bernardim, apaixonado por D. Beatriz, arquiteta o plano de assumir a personagem de Taes para se poder aproximar da Infanta. No mesmo ato, contracenam Paula Vicente e Dona Beatriz, confessando esta última o grande amor que nutre pelo poeta de Menina e Moça. No segundo ato, desenrolado nos Paços da Ribeira, assistem-se aos preparativos da representação: Gil Vicente e Paula Vicente não gostam do ensaio de Joana do Taco, destacada para interpretar Taes. Bernardim aparece disfarçado e pede para falar com Gil Vicente, pedindo-lhe o papel da moura. Mediante a interferência de Paula, Gil acede. Inicia-se a apresentação da peça com a presença de D. Manuel I e dos altos dignatários da Corte, entre os quais Garcia de Resende. Quando Bernardim entra em cena, modifica as falas da moura, conferindo-lhes um grande lirismo. O Rei percebe que se trata de Bernardim e manda interromper a representação, retirando-se com enfado, sem se aperceber que D. Beatriz tinha desmaiado. O terceiro ato passa-se a bordo do Galeão Santa Catarina que levará a Infanta ao seu destino. D. Manuel vem despedir-se da sua filha e traz consigo Chatel, o seu Secretário, que demonstra algumas desconfianças sobre a postura da Infanta. Por intermédio de Paula Vicente, Bernardim consegue visitar D.Beatriz a quem declara o seu amor.
[retirado de: http://www.infopedia.pt/$um-auto-de-gil-vicente ]

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

António Nobre

A Poezia do Outomno

Noitinha. O sol, qual brigue em chammas, morre
Nos longes d'agoa... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poezia escorre
E os bardos, a sonhar, molham a penna!

Ao longe, os rios de agoas prateadas
Por entre os verdes cannaviaes, esguios,
São como estradas liquidas, e as estradas
Ao luar, parecem verdadeiros rios!

Os choupos nus, tremendo, arripiadinhos,
O chale pedem a quem vae passando...
E nos seus leitos nupciaes, os ninhos,
As lavandiscas noivam piando, piando!

O orvalho cae do céu, como um unguento.
Abrem as boccas, aparando-o, os goivos...
E a larangeira, aos repellões do vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.

E o orvalho cae... E, á falta d'agoa, rega
O val sem fruto, a terra arida e nua!
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega
O seu Sermão de Lagrymas, á Lua!

Tardes de outomno! ó tardes de novena!
Outubro! Mez de Maio, na lareira!
Tardes...  
             Lá vem a Lua, gratiae plena,
Do convento dos céus, a eterna freira!

António Nobre, in 'Só'

Camilo Pessanha

Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?


Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!


E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...


Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze _quanta flor! _do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

Camilo Pessanha

Foi um dia de inúteis agonias.
Dia de sol, inundado de sol!...
Fulgiam nuas as espadas frias...
Dia de sol, inundado de sol!...

Foi um dia de falsas alegrias.
Dália a esfolhar-se – o seu mole sorriso...
Voltavam os ranchos das romarias.
Dália a esfolhar-se – o seu mole sorriso...

Dia impressível mais que os outros dias.
Tão lúcido... Tão pálido... Tão lúcido!...
Difuso de teoremas, de teorias...

O dia fútil mais que os outros dias!
Minuete de discretas ironias...
Tão lúcido... Tão pálido... Tão lúcido!...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lírica Medieval

Para quem tiver curiosidade em conhecer mais cantigas dos vários subgéneros, encontra aqui um grande número. Tem inclusivamente muitas cantigas musicadas

Cantigas de amor

Cantigas de amor

I. Temática
Têm como temática o amor, do mesmo modo que as cantigas de amigo, mas observa-se mais aristocracia no tom e na forma.
As  cantigas de   amor   estruturam-se  como  declaração amorosa  ou  lamento perante a dama pela sua indiferença ou altivez.
A personagem protagonista é sempre a senhor, embora esta não seja sempre a destinatária da cantiga. A descrição da senhor é:
Psíquica,   o   trovador   descreve   especialmente   as  virtudes  do   seu
                        comportamento.
 Física, que se realiza só de modo genérico. Ademais, não há referências ao tempo ou ao espaço já que é uma dama abstracta.
d) Tavani estabelece os seguintes campos semânticos:
    • Elogio da dama: pode aparecer explícito ou implícito, mas é sempre positivo (frequentemente aparece como obra mestra de Deus).
    • Amor do poeta: também pode aparecer explícito ou não e liga-se aos seguintes motivos:
 Coita, sempre presente na lírica galego-portuguesa. Vê-se como um sentimento contraditório já que produz pesar, mas também certo prazer masoquista.
Desejo da morte por amor.
Reserva da dama: é sempre esquiva, tímida, discreta. Não se menciona o seu nome, pelo que isto também está relacionado com a mesura.
Não correspondência do amor: está ligada à coita e à sintomatologia que produz o distanciamento da dama (insónia, pranto, loucura...). Expressa-se por meio de fórmulas estereotipadas.
.

II. Causas da influência provençal na Península.

1. Os monges de Cluny - Antes ainda de Portugal se tomar independente estabeleceram-se na Península os monges de Cluny, sob cuja direcção espiritual ficaram no século XI quase todas as igrejas hispânicas. Obtiveram muito cedo forte ascendente na corte de Afonso VI de Leão e não resta dúvida de que deixaram por cá vestígios da sua passagem, pelo menos na arquitectura. Devem ter influído igualmente nas letras. Entre outros, celebrizaram-se em Portugal S. Geraldo e o seu biógrafo Fr. Bernardo.
2. As romagens aos santuários - O principal motivo das deslocações da gente medieval consistia nas peregrinações aos santuários. Por causa da devoção aos servos de Deus, mais do que por causa do comércio e das campanhas militares, é que as pessoas jornadeavam então de terra em terra, de nação em nação. Anualmente, os crentes da França, qual formigueiro nervoso, dirigiam-se a Santiago de Compostela; e os de cá empreendiam idênticas jornadas de fé às terras de além-Pirenéus, a Tours e sobretudo a Santa Maria de Rocamadour. As viagens duravam meses; pelo caminho, os romeiros cantavam as modas da sua terra; em frente dos templos, faziam-se representações teatrais e autênticos torneios poéticos. Desta maneira, as culturas iam-se disseminando ao longe e ao largo. É natural, por exemplo, que muitos trovadores gauleses tenham deliciado os aborígenes da Galiza com cantares provençais, alguns até cheios de sensualismo pagão, a contrastar com a penitência e santidade próprias dos bons romeiros.
2. Os guerreiros e colonos franceses - Os reis de Leão convidaram cavaleiros franceses para os ajudarem nas lutas contra os Mouros. O conde D. Henrique lá veio de além-Pirinéus e com ele muitos outros.
Lisboa foi conquistada com o auxílio de cruzados nórdicos e da Gália. D. Afonso Henriques e sobretudo D. Sancho I, em reconhecimento de serviços prestados, distribuíram terras por muitos desses guerreiros, os quais por aqui espalharam os seus costumes e a sua cultura e civilização.
3. Contacto dos fidalgos portugueses com jograis da Provença – Descontentes com o
despotismo de D. Afonso II vários nobres portugueses abandonaram o país e foram acolher-se à corte de Afonso IX de Leão. Conhecemos o nome de alguns que lá se deixaram enredar pelo encanto das musas: D. Gil Sanches, D. Abril Peres, D. Garcia Mendes. Poetavam então nessa corte conhecidos trovadores franceses que os nossos procuravam imitar. Os contactos continuaram nos reinados de Fernando III e Afonso X.
4. O Bolonhês — D. Afonso III viveu em França durante doze anos. Quando veio sentar-se no trono de Portugal, fez-se acompanhar de mestres franceses, alguns dos quais educariam D. Dinis, futuro herdeiro da Coroa e, sem dúvida, o nosso mais prolífero trovador.
5. O comércio — No século XIII, os navios portugueses iam a França comprar panos; e navios franceses, nessa mesma época, entravam com frequência na barra do Douro. Os comerciantes e tripulantes lusos assimilavam e espalhavam depois a cultura estrangeira que, superior à portuguesa, os deslumbrava.

III. Onde se manifestou a influência provençal?

  • Nos provençalismos. Deparamos a cada passo nos cancioneiros com vocábulos originários da Provença: sen (senso), cor (coração), prez (valia, preço), greu (difícil), mege (médico), maloutia (doença), solaz (prazer), fiz (certo), eire (ontem), etc.
  • Na teoria do amor cortês. O amor provençal, chamado também amor cortês, é diferente do amor que se exprime nas cantigas de amigo. Este tem o casamento como fim último. Daí o verificar-se apenas entre rapariga e rapaz solteiros. Ao contrário, o amor cortês não tem como finalidade a união matrimonial dos apaixonados. Supõe mesmo a impossibilidade dessa união. É uma aspiração sem correspondência, que deve alimentar o estado de tensão que gera, a fim de se realizar plenamente e se perpetuar. Corteja-se a mulher casada e desta maneira, tal amor raras vezes passa de um fingimento intelectual. Essa mulher normalmente é uma «dona», senhora da corte e fidalga.
  • Na descrição da natureza – é uma natureza estereotipada e convencional.
  • Análise introspectiva – Nestas cantigas são analisados alguns estados de alma que passam despercebidos à naturalidade das de amigo: o doce-amargo do amor, o querer e não querer da vontade, contradições dos namorados, …

IV. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS «CANTIGAS DE AMOR»

 1. Os sentimentos eróticos que exprimem são os de homem. Enquanto nas cantigas de amigo é a mulher que abre o seu coração, nestas é o namorado que desfia as «coitas» de amor. Sendo dialogadas, é o homem que fala em primeiro lugar.
2. Por influência do lirismo tradicional, algumas cantigas de amor estão dotadas de paralelismo imperfeito e semântico.
3. Possuem algumas um variado e complicado formalismo estilístico. Nas canções de mestria, esse formalismo (dobre, mozdobre, macho e fêmea) vai abrindo caminho para os malabarismos estilísticos afectados da poesia do Cancioneiro Geral e da dos períodos maneirista e barroco.
4. Estão repassadas de simbologia amorosa, bastante rica, por causa da teoria do amor cortês.
5. Há nas nossas cantigas de amor menos fingimento e por conseguinte maior sinceridade do que nas composições provençais.
6. Nota-se uma certa uniformidade na expressão e nos sentimentos, o que desanda inevitavelmente na monotonia temática.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Meendinho / GNR

A propósito da aula de hoje (10º), aqui fica uma versão dos GNR:

Jacinto Lucas Pires no Café Concerto

"O escritor Jacinto Lucas Pires é o convidado que se segue na tertúlia literária Café Desconcerto que o TMG apresenta sexta-feira. A conversa, que andará à volta da vida e obra deste autor português de 37 anos, vai ser guiada por Américo Rodrigues, Director do TMG.
Jacinto Lucas Pires é licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa. Foi cronista de “A Capital”. É autor do blogue Chanatas. Tem publicados mais de uma dezena de livros pela editora Cotovia. Em Novembro de 2008 foi o vencedor do Prémio Europa - David Mourão-Ferreira, atribuído pela Universidade de Bari e pelo Instituto Camões. O seu último livro, de 2011, chama-se “O verdadeiro ator”.
A conversa está marcada para as 21h30 e tem entrada livre. "
Fonte: TMG

Nota: Sabiam que a família de Lucas Pires é oriunda de Vila Fernando (Guarda)?
Nota 2: Sabiam que o protagonista do último livro de Jacinto Lucas Pires se chama Américo e é um actor?
Nota 3: Sabiam que já passaram pelo ciclo "Café Desconcerto", escriores como Gonçalo M. Tavares, João Tordo, Rui Cardoso Martins, valter hugo mãe, entre outros?




[Texto e foto "roubados" de http://cafe-mondego.blogspot.com/2011/10/jacinto-lucas-pires-na-guarda.html]

domingo, 16 de outubro de 2011

Num Bairro Moderno - Cesário Verde

CESÁRIO VERDE

CESÁRIO VERDE

"A mim, o que me rodeia é que me preocupa" 
                                               C. Verde, Carta a Silva Pinto, 1875
I - Obra
 Podemos falar de três fases na produção poética deste autor:
- a primeira situar-se-ia entre 1873 e 1874, englobando 15 poesias e caracteriza-se pelos floreados à maneira romântica     |"Setentrional" |;
- a segunda fase, iniciada com "Esplêndida " em 1874, prolongar-se-ia até 1878; sofre a influência de Gomes Leal, deleita-se na recriação de paraísos artificiais  |"Deslumbramentos"; "Débil" |;
 - a partir de 1878, o poeta começa a "olhar" as coisas de outra forma  e entra na fase propriamente realista, começa a observar a  realidade poética que existe à sua  volta e surgem as suas grandes produções:
"Num bairro moderno", "O Sentimento de um Ocidental",...

II - TEMÁTICA
a) A cidade: realidade objectiva e quotidiana 
   Cesário é o poeta da cidade: palpa-lhe as sensações, cheira-lhe os "perfumes", ausculta--lhe o ruído, vê as formas das coisas e das pessoas, saboreia-a e, acima de tudo, sente essa cidade duma maneira diferente. É, de facto, um citadino imiscuído na sua cidade.
b) A realidade da vida do campo
     Porém o poeta, muitas vezes, não consegue esquecer a sua infância e volta ao campo porque ele afinal é um camponês que anda pela cidade "olhando para as casas como se olha para as árvores" (Alberto Caeiro)
c) A dignidade dos humildes e a sua dura sorte 
     Há uma preocupação em descrever, até ao pormenor, alguns tipos sociais do seu tempo, uma preocupação com aqueles que sofrem (como ele) os efeitos duma cidade foco de infecções, desgraças,...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Antero de Quental

Evolução ideológica


1. Abandono do catolicismo. Dúvida e incerteza.

     Educado no catolicismo, ao chegar a Coimbra, começa a ler os autores novos vindos
     da Europa e cai na dúvida e na incerteza. Começa a procurar um caminho que o leva
     à aspiração por um Absoluto, obsessão que o acompanhará toda a vida.

2.  Idealismo hegeliano.
    
      O hegelianismo foi o ponto de partida filosófico e nele se deu a evolução intelectual.
      (As coisas são manifestação da Ideia fora da qual não há existência inteligível. Cada
      manifestação da Ideia | tese | esbarra na sua contrária |antítese  | e transforma-se numa
      nova |síntese | que, por sua vez, se converte numa tese e assim sucessivamente.
      Daqui passa com facilidade ao panteísmo  pampsiquismo.)

3.  Socialismo utópico.

      Se o hegelianismo explicava o Universo, nada lhe explicava a finalidade do Homem
      na terra. Assim inicia uma procura de sentido prático para a vida e encontra proviso-   
      riamente uma resposta em Michelet e Proudhon: a sociedade evolui constantemente
      e estabiliza-se nos princípios da Justiça Universal.

4.   Apostolado social.

      Querendo contribuir para a evolução da sociedade, aderiu ao socialismo. Era porém 
      um socialismo que preconizava uma evolução pacífica, baseada na moralidade, na
      instrução das classes trabalhadoras.

5.   Pessimismo e budismo.

       O falhanço da acção social, a morte de pessoas amigas, a doença levaram-no ao
       pessimismo: o Universo é um sofrimento sem finalidade e tudo caminha inevitavel-
       mente para o nada (Schopenhauer). Resta a Consciência que se deve esforçar por
       atingir o nirvana  onde há o repouso completo.  

                                  (Ant º José Barreiros, História da Lit. Portuguesa, Ed. Pax, Braga)

(Nota: Há autores que dividem este percurso ideológico de outro modo. Por exemplo.
 Mª Leonor Buescu faz uma divisão em quatro fases: a dúvida, o cepticismo ateísta,
 panteísmo búdico, angústia/obsessão da morte.)                                      


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Exame de Literatura Portuguesa

Para os mais desatentos, lembro que foi hoje a prova de Literatura Portuguesa 1ª fase,que pode ser consultada aqui: http://cdn.gave.min-edu.pt/files/388/LitPort734_F1_11.pdf. Reparem no Grupo III - matéria de 10º ano!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Epigramas - Bocage

Homem de génio impaciente,
Tendo uma dor infernal,
Pedia para matar-se
Um veneno, ou um punhal.
"Não há (lhe disse um vizinho
Velho, que pensava bem)
Não há punhal, nem veneno;
Mas o médico ai vem.

****
Rechonchudo franciscano
Desenrolava um sermão;
E defronte por acaso
Lhe ficara um beberrão.
Tratava dos bens celestes,
Proferindo: "Ouvintes meus,
Que ditas, que imensa glória
Para os justos guarda um Deus!
Falsos, momentâneos gostos
Há neste mundo mesquinho:
Mas no Céu há bens sem conto...
Pergunta o bêbado: - "E vinho?"

Sátira

Cara de réu, com fumos de juiz,
Figura de presepe, ou de entremez,
Mal haja quem te sofre, e quem te fez,
Já que mordeste as décimas que fiz:
Hei-de pôr-te na testa um T com giz,
Por mais e mais pinotes, que tu dês;
E depois com dois murros, ou com três,
Acabrunhar-te os queixos, e o nariz:
Quem da cachola vã te inflama o gás,
E a abocanhares sílabas te induz,
Ó dos brutos e alarves capataz?
Nem sabes o A B C, pobre lapuz;
E pasmo de que, sendo um Satanás,
Com tinta faças o sinal da Cruz!
Bocage

Nascemos para Amar

Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

Bocage

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?


Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Bocage

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pré-românticos - Anastácio da Cunha

José Anastácio da Cunha (1744-1787) nasceu em Lisboa e seguiu a carreira das armas. Esteve algum tempo a fazer serviço em Valença como oficial de artilharia, sendo nomeado pelo Marquês de Pombal lente da Universidade de Coimbra devido aos seus profundos conhecimentos de Matemática. Além de obras sobre essa disciplina, escreveu poesia. É considerado um dos pré-românticos portugueses. As suas obras poéticas foram publicadas em 1836 sob o título de Composições Poéticas. Em 1826 foi publicada em Paris A Voz da Razão.

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/cunha.htm )




Os Porquês do Amor

Céu, porque tão convulso  e consternado
Me bate, ao vê-la, o coração no peito?
Porque pasma entre os beiços congelado,
Indo a falar-lhe, o tímido conceito?

Porque nas áureas ondas engolfado
Da caudalosa trança, inda que afeito,
Me naufraga o juízo embelezado,
E em ternura suavíssima desfeito?

Porque a luz dos seus olhos, tão activa,
Por lânguida inda mais encantadora,
Me cega, e por a ver, ansioso, clamo?

Porque da mão nevada  sai tão viva
Chama, que me electriza e me devora?
Os mesmos meus porquês me dizem: - Amo!

****

Ondeados, lindíssimos cabelos,
         Um rosto encantador, enamorado,
         Em cada face um pomo sazonado
         Das purpúreas flores são modelos.

Um meigo coração que faz ter zelos
         Ao coração mais terno e sossegado;
         Uma voz carinhosa, um doce agrado,
         Um riso natural, uns dentes belos.

Tudo possui Marfida! Oh! quem pudera,
         Doces prisões rompendo do segredo,
         Explicar-te a paixão que na alma impera.

Enfim, voltar-se a voz... mas, oh! que medo,
         De mais um desengano que me espera,
         Mais imóvel me deixa que um rochedo. 

Pré-românticos - Marquesa de Alorna

D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, Marquesa de Alorna (1750-1839) nasceu em Lisboa. Tendo o seu pai sido preso, acusado de participar no atentado ao rei D. José, Leonor, de oito anos, entrou com sua irmã para o convento de Chelas, vindo somente a sair após a morte do Marquês de Pombal. Casou com o Conde de Oeynhausen e viajou por Viena, Berlim e Londres. Enviuvou aos 43 anos de idade, vivendo com algumas dificuldades económicas, dificuldades estas que não a impediram de se dedicar à literatura. Adoptou na Arcádia o nome de Alcipe. Traduziu a Arte Poética de Horácio e o Ensaio sobre a Crítica de Pope. É considerada uma poetisa pré-romântica. As suas obras foram publicadas em 1844 em seis volumes com o título genérico de Obras Poéticas.


Esperanças de um vão contentamento,
por meu mal tantos anos conservadas,
é tempo de perder-vos, já que ousadas
abusastes de um longo sofrimento.

Fugi; cá ficará meu pensamento
meditando nas horas malogradas,
e das tristes, presentes e passadas,
farei para as futuras argumento.

Já não me iludirá um doce engano,
que trocarei ligeiras fantasias
em pesadas razões do desengano.

E tu, sacra Virtude, que anuncias,
a quem te logra, o gosto soberano,
vem dominar o resto dos meus dias.



(http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/alorna.htm)

Pré-Romantismo

Época literária (primeiro quartel do século XIX) caracterizada pelo surgimento de manifestações que viriam a caracterizar o movimento romântico (por exemplo: o fatalismo; a busca do isolamento; a hiperbolização do sofrimento; a obsessão da morte), sendo, desta forma, considerada de preparação para a corrente artística que se avizinhava. Não podemos dizer que existiu um movimento literário, mas, sim, manifestações e aspetos que acusam o dealbar do Romantismo, o qual se afirmará em 1825. Haja, embora, em alguns poetas do século XVIII uma declarada sensibilidade pré-romântica, esta assume vertentes várias em José Anastácio da Cunha e o instinto tocando as raias do erotismo a anunciar Garrett, o poeta das Folhas Caídas; em João Xavier de Matos, no qual o Neoclassicismo ainda comanda o sentimento, em Tomás António Gonzaga com um amor de sentidos delicados com toques de espiritualidade, em Bocage, na Marquesa de Alorna... Por isso, estamos mais na presença de pré-românticos do que de um movimento genérico, uno. Refiram-se, no entanto, algumas características nestes poetas precursores do Romantismo: o fatalismo (evidente em Bocage) que conduz à tristeza, por vezes, ao desespero; a busca do isolamento e de uma natureza nublada, lúgubre (o "locus horrendus" em perspetiva); a noite com a paisagem sepulcral do mocho sobre o "agoireiro cipreste", a hiperbolização do sofrimento provocado pelo ciúme, pela saudade, pela desconfiança; um evidente choque psicológico entre a razão (que comandava o sentimento clássico) e o coração (confirmando o pensamento de Pascal: «O Coração tem razões que a Razão desconhece»), a obsessão da morte completa o quadro sombrio de uma produção literária na qual um pessoalismo desbordante faz brotar algumas cambiantes românticas. Esta poesia sai dos outeiros e das assembleias e improvisa (Bocage) ou oferece-se aos frequentadores de cafés e botequins. É uma poesia que recebe cunho mais pessoal, quer como veículo do pensamento científico (Marquesa de Alorna), quer como expressão do sentimento (marcada pelas tonalidades anunciadoras do Romantismo), quer como fotografia colorida e animada do viver de uma sociedade, que passa perante nós em curiosos clichés, mesmo já na poesia dos árcades como vemos em Cruz e Silva e Correia Garção. Mas é na produção poética dos chamados dissidentes, precursores do Romantismo, que essa poesia ganha volume e afirma a certeza de que o Classicismo, com todas as suas excelências, fora, finalmente, ultrapassado por um individualismo irrequieto e ansioso que se não conformava já com os padrões que fizeram exageradamente uma época que se arrastara através de três séculos. E foi, possivelmente, o contacto direto com a literatura dos nórdicos, nas abundantes traduções feitas por Bocage, Filinto Elísio e pela Marquesa de Alorna, que propiciou essa forma de expressão necessária para a tradução de estados de alma que, só depois disso, se mostraram, inteiramente, em verdadeira radiografia espiritual.

domingo, 22 de maio de 2011

Neoclassicismo

Movimento literário, derivado do espírito crítico do Iluminismo, que visa à reabilitação e restauração dos géneros, das formas, das técnicas e da expressão clássicas, que vingaram em Portugal no séc. XVI. Esta renovação faz-se acompanhar duma severa disciplina estética e dum purismo estreme, que procura libertar a língua de termos espúrios, restituindo-lhe uma sobriedade castiça e o rigor de sentido. Os primeiros indícios deste interesse por problemas de preceptiva literária e linguística aparecem logo no limiar do séc. XVII e vão-se acentuando progressivamente até ganharem a força de uma corrente contra os excessos e exageros do barroco, no séc. XVIII. (...) O Neoclassicismo vai actuar, portanto, em dois sectores capitais: o da doutrinação estética e o da criação literária. O primeiro é fortemente orientado pelo racionalismo mecanicista, evidenciado no VERDADEIRO MÉTODO DE ESTUDAR (1746) de Verney e, por ex., nas ENFERMIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA (1759) de Manuel José de Paiva.
(...) O mais documentado teórico do movimento foi, porém, Francisco José Freire, «Cândido Lusitano» (1719-1773), que elaborou uma ARTE POÉTICA (1748) e ainda um DICIONÁRIO POÉTICO (1765) e REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA PORTGUESA (1842). (...) A revalidação crítica das letras nacionais prossegue vivamente por todo o séc. XVIII, sob o signo do neoclassicismo, e é apoiada por uma vaga de traduções de autores greco-latinos, particularmente os latinos, sendo de realçar, entre mais de dez versões da ARTE POÉTICA de Horácio, as que foram feitas por Francisco José Freire e pelo Dr. Lima Leitão. (...) Ora deste vasto mar de teorias é possível fazer uma rapidíssima síntese das normas estéticas que enformam o neoclassicismo: a) condenação do barroco nas suas formas de cultismo e conceptismo; b) a Arte deve ser concebida como imitação da natureza (Aristóteles); c) a rima deve ser abolida (Garção e, na sua peugada, Filinto) por constituir uma constrição para o pensamento e para o verso; d) toda a literatura obedece a um fim ético e moral e a forma deve manter perfeita harmonia de valores verbais e o equilíbrio entre a razão e o sentimento.
O poderoso agente institucional da formação e fixação do gosto neoclássico foi a ARCÁDIA LUSITANA ou OLISSIPONENSE, fundada em 1757. Todavia no domínio da criação literária nem sempre a posição teórica do arcadismo é devidamente respeitada. É o que sucede com o receituário mitológico, condenado por Verney e Cândido Lusitano, e a que Cruz e Silva recorreu. (...)
(Rebelo, Luís de Sousa, DICIONÁRIO DE LITERATURA, 3ª edição, 3º volume)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Barroco - análise / testes

Aqui há análise pormenorizada de alguns sonetos e aqui há testes para resolveres e aperfeiçoares a tua aprendizagem.

terça-feira, 3 de maio de 2011

À VARIEDADE DO MUNDO


Este nasce, outro morre, acolá soa
Um ribeiro que corre, aqui suave
Um Rouxinol se queixa brando, e grave,
Um Leão co rugido o monte atroa:

Aqui corre uma fera, acolá voa
Co grãozinho na boca ao ninho uma ave;
Um derruba o edifício, outro ergue a trave,
Um caça, outro pesca, outro enferroa.

Um nas armas se alista, outro as pendura,
Ao soberbo Ministro aquele adora,
Outro segue do Paço a sombra amada.

Este muda de amor, aquele atura:
Do bem, de que um se alegra, o outro chora.
Oh mundo, oh sombra, oh zombaria, oh nada!


António Barbosa Bacelar, Fénix, II

Barroco

Características gerais do barroco
 Apesar das diferentes interpretações que se verificaram nos diferentes países e regiões, determinadas por diferentes contextos políticos, religiosos e culturais, este estilo apresentou algumas características comuns, como:
Ø   a tendência para a representação realista;
Ø   a procura do movimento e do infinito;
Ø   a tentativa de integração das diferentes disciplinas artísticas;
Ø   emocional sobre o racional: o seu propósito é impressionar os sentidos do observador, baseando-se no princípio segundo o qual a fé deveria ser atingida através dos sentidos e da emoção e não apenas pelo raciocínio;
Ø   busca de efeitos decorativos e visuais, através de curvas, contracurvas, colunas retorcidas;
Ø   violentos contrastes de luz e sombra;
Ø   pintura com efeitos ilusionistas, dando-nos às vezes a impressão de ver o céu, tal a aparência de profundidade conseguida;
Ø   a amplitude, a contorção e a exagerada riqueza ornamental, ausência de espaços vazios e o gosto pela teatralidade.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Barroco - Gregório de Matos

A Cristo S. N. crucificado estando o poeta na última hora de sua vida 


Meu Deus, que estais pendente de uma madeiro,
Em cuja lei protesto de viver,
Em cuja santa lei hei de morrer
Animoso, constante, firme e inteiro:

Neste lance, por ser o derradeiro,
Pois vejo a minha vida anoitecer,
É, meu Jesus, a hora de se ver
A brandura de um Pai, manso cordeiro.

Mui grande é vosso amor e o meu delito;
Porém pode ter fim todo o pecar,
E não o vosso amor, que é infinito

Esta razão me obriga a confiar,
Que, por mais que pequei, neste conflito
Espero em vosso amor de me salvar.



[Poeta brasileiro, um dos melhores representantes do Barroco português]