quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ANTÓNIO BOTTO (1897 - 1959)

Soneto

Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento

As mãos pressentem

As mãos pressentem a leveza rubra do lume
repetem gestos semelhantes a corolas de flores
voos de pássaro ferido no marulho da alba
ou ficam assim azuis
queimadas pela secular idade desta luz
encalhada como um barco nos confins do olhar

ergues de novo as cansadas e sábias mãos
tocas o vazio de muitos dias sem desejo e
o amargor húmido das noites e tanta ignorância
tanto ouro sonhado sobre a pele tanta treva
quase nada


Al Berto

[Podem-se ler mais poemas em: http://www.astormentas.com/poemas.aspx?t=autor&id=Al+Berto]

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

AL BERTO (1948 - 1997)

Os Amigos

No
regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias

tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite

prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-os de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume

ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transmudou em remota e resignada ausência

CANTARES DOS BÚZIOS

Ai ondas do mar, ai ondas,
ó jardins das alvas flores,
sobre vós, ondas, ai ondas,
suspiram os meus amores.

No fundo dos búzios canta
o mar que chora a cantar
ó mar que choras cantando,
eu canto e estou a chorar!

Ai ondas do mar, ai ondas,
eu bem vos quero lembrar:
«a minha alma é só de Deus
e o meu corpo da água do mar!»

Afonso Lopes Vieira

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Afonso Lopes Vieira (1878 - 1946)

Linda Inês


Choram ainda a tua morte escura
Aquelas que chorando a memoraram;
As lágrimas choradas não secaram
Nos saudosos campos da ternura.

Santa entre as santas pela má ventura,
Rainha, mais que todas que reinaram;
Amada, os teus amores não passaram
E és sempre bela e viva e loira e pura.

O Linda, sonha aí, posta em sossêgo
No teu muymento de alva pedra fina,
Como outrora na Fonte do Mondego.

Dorme, sombra de graça e de saudade,
Colo de Garça, amor, moça menina,
Bem-amada por toda a eternidade !
 
     (In Cancioneiro de Coimbra)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira

[BOM NATAL a todos, mas especialmente aos jovens que partilham comigo as aulas de Literatura Portuguesa.]

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Disponibilidade

Sinto hoje vontade de escrever um poema.
Fechei todos os livros
porque o ruído dos outros me incomodava.
Afinal, talvez nem me apeteça escrever o poema.
Olho desolado as coisas em redor:
canso-me;
passeio sem dar conta os olhos pelo quarto,
escorrego em sonhos,
tropeço, ao lusco-fusco, em ecos de quimeras.
E enquanto fico,
Ao lado escorre a vida sem que eu dê por ela.



Adolfo Casais Monteiro

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

ADOLFO CASAIS MONTEIRO

Eu Falo das Casas e dos Homens

Eu falo das casas e dos homens,
dos vivos e dos mortos:
do que passa e não volta nunca mais.. .
Não me venham dizer que estava materialmente
previsto,
ah, não me venham com teorias!
Eu vejo a desolação e a fome,
as angústias sem nome,
os pavores marcados para sempre nas faces trágicas
das vítimas.

E sei que vejo, sei que imagino apenas uma ínfima,
uma insignificante parcela da tragédia.
Eu, se visse, não acreditava.
Se visse, dava em louco ou em profeta,
dava em chefe de bandidos, em salteador de estrada,
- mas não acreditava!


Olho os homens, as casas e os bichos.
Olho num pasmo sem limites,
e fico sem palavras,
na dor de serem homens que fizeram tudo isto:
esta pasta ensanguentada a que reduziram a terra inteira,
esta lama de sangue e alma,
de coisa a ser,
e pergunto numa angústia se ainda haverá alguma esperança,
se o ódio sequer servirá para alguma coisa...


Deixai-me chorar - e chorai!
As lágrimas lavarão ao menos a vergonha de estarmos vivos,
de termos sancionado com o nosso silêncio o crime feito instituição,
e enquanto chorarmos talvez julguemos nosso o drama,
por momentos será nosso um pouco do sofrimento alheio,
por um segundo seremos os mortos e os torturados,
os aleijados para toda a vida, os loucos e os encarcerados,
seremos a terra podre de tanto cadáver,
seremos o sangue das árvores,
o ventre doloroso das casas saqueadas,
sim, por um momento seremos a dor de tudo isto. . .


Eu não sei porque me caem as lágrimas,
porque tremo e que arrepio corre dentro de mim,
eu que não tenho parentes nem amigos na guerra,
eu que sou estrangeiro diante de tudo isto,
eu que estou na minha casa sossegada,
eu que não tenho guerra à porta,
- eu porque tremo e soluço?
Quem chora em mim, dizei - quem chora em nós?


Tudo aqui vai como um rio farto de conhecer os seus meandros:
as ruas são ruas com gente e automóveis,
não há sereias a gritar pavores irreprimíveis,
e a miséria é a mesma miséria que já havia...
E se tudo é igual aos dias antigos,
apesar da Europa à nossa volta, exangüe e mártir,
eu pergunto se não estaremos a sonhar que somos gente,
sem irmãos nem consciência, aqui enterrados vivos,
sem nada senão lágrimas que vêm tarde, e uma noite à volta,
uma noite em que nunca chega o alvor da madrugada...



(1908 - 1972)


[Com este poema, começo a publicação dos poetas que fazem parte do quadro de referências do Projecto Individual de Leitura. É claro que a selecção dos poemas é subjectiva e devem ser procurados outros poemas exemplificativos da obra do autor.]

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

LAIS / CANÇÃO DE LEONORETA

  Senhor genta,
     min tormenta
voss’amor em guisa tal
     que tormenta
     que eu senta
outra non m’é ben, nen mal,
mays la vossa m’é mortal:
     Leonoreta,
     fin roseta,
bella sobre toda fror,
     fin roseta,
     non me metta
en tal coisa voss’amor!


     Das que vejo
     non desejo
outra senhor se vós non,
     e desejo,
     tan sobejo,
mataria huu leom,
senhor do meu coraçon:
     Leonoreta,
     fin roseta,
bella sobre toda fror,
     fin roseta,
     non me metta
en tal coisa voss’amor!


     Mha ventura
     en loucura
me meteo de vos amar;
     é loucura,
     que me dura,
que me non posso en quitar,
ay fremosura sem par:
     Leonoreta,
     fin roseta,
bella sobre toda fror,
     fin roseta,
     non me metta
en tal coisa voss’amor!

Joam de Lobeyra

DESCORDO

Agora me quer'eu ja espedir
da terra, e das gentes que i son,
u mi Deus tanto de pesar mostrou,
e esforçar mui ben meu coraçón,
e ar pensar de m'ir alhur guarir.
E a Deus gradesco porque m'én vou.

Ca a meu grad', u m'eu d'aquí partir,
con seus desejos non me veerán
chorar, nen ir triste, por ben que eu
nunca presesse; nen me poderán
dizer que eu torto fac'en fogir
d'aquí u me Deus tanto pesar deu.

Pero das terras averei soidade
de que m'or'hei a partir despagado;
e sempr'i tornará o meu cuidado
por quanto ben vi eu en elas ja;
ca ja por al nunca me veerá
nulh'home ir triste nen desconortado.

E ben digades, pois m'én vou, verdade,
se eu das gentes, algún sabor havía,
ou das terras en que eu guarecía.
Por aquest'era tod', e non por al;
mais ora ja nunca me será mal
por me partir d'elas e m'ir mia vía.

Ca sei de mí
quanto sofrí
e encobrí
en esta terra de pesar.
Como perdí
e despendí,
vivend'aquí,
meus días, posso-m'én queixar.
E cuidarei,
e pensarei
quant'aguardei
o ben que nunca pud'achar.
Esforçar-m'-ei,
e prenderei
como guarrei
conselh'agora', a meu cuidar.

Pesar
d'achar
logar
provar
quer'eu, veer se poderei.
O sén
d'alguén,
ou ren
de ben
me valha, se o en mí hei.

Valer
poder,
saber
dizer
ben me possa, que eu d'ir hei.
D'haver
poder,
prazer
prender
poss'eu, pois esto cobrarei.

Assí querrei
buscar
viver
outra vida que provarei,
e meu descord'acabarei.

Nuno Eanes Cérzeo

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Roteiro quase-diário da leitura de "Gente Feliz com Lágrimas"

Dia 22 de Setembro de 2010
Esta noite, comecei a ler o Livro Primeiro, mas com o sono a chatear-me a carola, só li até ao capítulo número dois.

Dia 25 de Setembro de 2010
Ao final da tarde, retomei no início do capítulo número dois e li até ao capítulo terceiro do Livro Primeiro.

Dia 26 de Setembro de 2010
Ao início da tarde, peguei no livro e li do capítulo terceiro ao capítulo quinto. Está a tornar-se difícil deixar de ler o livro, é um romance muito descritivo, que nos faz reflectir e ao mesmo tempo nos dá a conhecer um Portugal que ainda não morreu. É um romance envolvente, e apesar de eu não gostar de livros que me levem a reflectir muito sobre a forma como lido com a minha vida (neste caso, como não dou por vezes o devido valor ás coisas que tenho), estou com curiosidade de saber como irá terminar este livro…

Dia 9 de Outubro de 2010
A semana passada não tive muito tempo nem paciência para ler, faleceu-me a minha avó… Mas hoje, durante a tarde, vi a livro a olhar-me e acabei por me sentar na cama a ler. Li até ao capítulo sétimo.

Dia 10 de Outubro de 2010
A meio da tarde, voltei ao início do capítulo sétimo e acabei assim de ler o Livro primeiro.


Dia 15 de Outubro de 2010
Depois do almoço, peguei no livro, e “devorei” o Livro segundo. E à noite li os primeiros 4 capítulos do livro terceiro.

Dia 16 de Outubro de 2010
De manhã, e uma vez que tenho que apresentar o livro na última semana do mês, deixei de andar a molengar e a reler todos capítulos duas ou três vezes, e li assim (durante grande parte do dia), os livros terceiro e quarto.

Dia 17 de Outubro de 2010
Retomei a leitura ao fim da manhã, e consegui assim acabar de ler o livro, claro que não reli estes últimos capítulos, como eu tanto gosto de fazer, mas espero que não me tenha passado nada ao lado…

Sofia Pires, 10ºG

“Gente Feliz com Lágrimas”, de João de Melo

João de Melo será sempre o autor de “Gente Feliz com Lágrimas”. Grande Prémio APE em 1989, é uma visão de um certo realismo mágico português, com olhos açorianos.
Em 1989, quando todos esperavam a entrega do Grande Prémio de Novela e Romance da APE a Maria Velho da Costa — incluindo, confessamente, a própria —, o júri da Associação Portuguesa de Escritores acabaria por tomar uma decisão inesperada e pouco consensual: distinguir antes João de Melo, ou seja, um insuspeito “Gente Feliz com Lágrimas”, em vez de “Missa in Albis”.
O livro, entre vários de ensaio, contos e poesia, foi o terceiro romance do escritor, depois de “A Memória de Ver Matar” (1977) e “O Meu Mundo Não É Deste Reino” (1983). Acabaria por receber mais quatro prémios literários e conheceria 16 edições nacionais, para lá de traduções em Espanha, França, Holanda e Roménia.
Há obras que chegam assim, com rugido de trovão a meio de uma conversa em voz baixa. Assombram vidas discretas.
Diz João de Melo (numa entrevista a publicar amanhã): “Ouço dizer que outros escritores se confrontaram já com o mesmo fadário: ver uma obra sua sobrepor-se a todos os livros que tenham escrito ou venham ainda a escrever. Passei a ser ‘o autor de Gente Feliz com Lágrimas’, depois de ter sido ‘o açoriano’ e ‘o escritor da guerra colonial’. Se isso significa que afinal sou o que sempre quis ser — isto é, um escritor português —, tanto melhor. Nunca pretendi ser um ‘regionalista’, mas alguém com direito à sua visão do tempo e da história, e com olhos açorianos”.
Será isso “Gente Feliz com Lágrimas”. A começar com uma viagem por mar que deixa a cidade do Funchal “numa noite de tréguas a meio da baía, com o presépio das suas casas ao cimo das falésias”.
Nuno Miguel, Luís Miguel e Maria Amélia. Nomes — haverá outros —, vozes numa narrativa de sujeitos múltiplos. Todos passam por essa pequena morte iniciática de cinco dias de navegação “quase sem alimento, com o abominável cheiro dos barcos metido no estômago e nos pulmões, quem sabe mesmo se dentro das veias”. Deixam para trás “um sulco de lamentações e gritos” — porque “os pobres eram sempre ruidosos, mesmo na expressão dessa gente feliz com lágrimas” —, para serem “cadáveres debruçados do convés, sobre o mar de Lisboa”, até uma poeira dourada de luzes lhes indiciar a aportagem, e o renascimento. Estaremos em 1960, quando o próprio autor — nascido em 1949 em Achadinha, na ilha de São Miguel — deixa os Açores para prosseguir estudos no Seminário dos Dominicanos? É possível, há mais indícios autobiográficos (senão mesmo pegadas). No masculino e no feminino, embarcamos numa “caravela metafísica”, passamos pela Guerra Colonial e o 25 de Abril de 74. Acabamos no Lumiar, a 20 de Agosto de 1988, depois de um “regresso invisível” aos Açores. Perseguimos a saga de uma família dispersa por várias paragens. Recordamos, por alguma inexplicável razão, essa etiqueta de “realismo mágico”.

[http://static.publico.clix.pt/docs/cmf/autores/jMelo/amanha.htm]

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PROVENÇAIS…



Os provençais que bem sabem trovar!
e dizem eles que trovam com amor,
mas os que cantam na estação da flor
e nunca antes, jamais no coração
semelhante tristeza sentirão
qual por minha senhora ando a levar.

Muito bem trovam! Que bem sabem louvar
as suas bem-amadas! Com ardor
os provençais lhes tecem um louvor!
mas os que trovam durante a estação
da flor e nunca antes, sei que não
conhecem dor que à minha se compare.

Os que trovam e alegres vejo estar
quando na flor está derramada a cor
e que depois quando a estação se for,
de trovar não mais se lembrarão,
esses, seu eu que nunca morrerão
da desventura que vejo a mim matar.

Natália Correia
Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Lista de obras - Projecto Individual de Leitura

Para os mais distraídos ou esquecidos aqui fica a lista completa das obras:

QUADRO DE REFERÊNCIAS  
 Poesia
 Adolfo Casais Monteiro, Afonso Lopes Vieira, Al Berto, António Botto, António Franco Alexandre, António Maria Lisboa, Casimiro de Brito, Florbela Espanca, Gastão Cruz, João de Deus, João Miguel Fernandes Jorge, João Rui de Sousa,  Joaquim Manuel Magalhães, José Régio, Luísa Neto Jorge, Mário Cesariny Vasconcelos, Miguel Torga, Nuno Júdice, Raul de Carvalho, Ruy Cinatti, Sebastião da Gama.                                            

Textos de Teatro 

Almada Negreiros             – Deseja-se Mulher
Branquinho da Fonseca    – Curva do Céu
Carlos Selvagem               – Dulcineia ou a Última Aventura de D.Quixote   
David Mourão-Ferreira     – O Irmão
Fernando Amado              – O Iconoclasta
Fiama Hasse P. Brandão  – Os Chapéus de Chuva 
Jorge de Sena                   – O Indesejado       
José Régio                        – O Meu Caso
José Saramago                 – In Nomine Dei       
Lídia Jorge                        – A Maçon     
Luísa Costa Gomes          – Nunca Nada de Ninguém   
Miguel Rovisco                – Trilogia Portuguesa ( O Bicho, A Infância de Leonor de Távora, O Tempo Feminino)
Natália Correia                – Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente   
                                        – O Encoberto
Romeu Correia                – O Vagabundo das Mãos de Oiro
Vicente Sanches             – A Birra do Morto
Yvette Centeno               – As Três Cidras do Amor

 Prosa 

Contos, novelas, romances

Agustina Bessa Luís         – Conversações com Dimitri e Outras Fantasias  
Almada Negreiros            – Nome de Guerra 
Alves Redol                      – Barranco de Cegos 
Aquilino Ribeiro               – Os Caminhos Errados  
António Lobo Antunes     – As Naus 
David Mourão-Ferreira    – Gaivotas em Terra
                                        Os Amantes e Outros Contos
Dinis Machado                 O Que Diz Molero 
Eça de Queirós               – Contos   
Fernando Campos          – O Homem da Máquina de Escrever  
                                       – A Casa do Pó  
Fernando Namora          – Resposta a Matilde
Ferreira de Castro          – A Selva    
Herberto Helder             – Os Passos em Volta   
Hélia Correia                  – Montedemo
João Araújo Correia        – Mãos Fechadas 
João de Melo                  – Gente Feliz com Lágrimas 
Jorge de Sena                 – O Físico Prodigioso
José Cardoso Pires         – O Burro-Em-Pé   
                                      – Jogos de Azar 
José Gomes Ferreira     – O Irreal Quotidiano  
                                      – O Enigma da Árvore Enamorada (Divertimento em forma de novela quase policial) *
José Rodrigues Miguéis – Léah e Outras Histórias
Lídia Jorge                     – O Cais das Merendas
Luísa Costa Gomes        – Contos Outra Vez    
                                       – O Pequeno Mundo 
Manuel Alegre               – O Homem do País Azul    
Manuel da Fonseca       – O Fogo e as Cinzas    
Maria Isabel Barreno    – O Círculo Virtuoso 
Maria Judite Carvalho   – Paisagem Sem Barcos
Maria Ondina Braga     – A China Fica ao Lado  
Mário de Carvalho        – Contos da Sétima Esfera    
                                     – Contos Vagabundos 
Mário Dionísio              – Dia Cinzento e Outros Contos
                                        Monólogo a Duas Vozes
Mário-Henrique Leiria  – Contos do Gin-Tonic      
                                     – Novos Contos do Gin 
Sophia M. B. Andresen – Contos Exemplares 
Urbano T. Rodrigues    – As Aves da Madrugada
Vitorino Nemésio         – O Mistério do Paço do Milhafre  
                                     –  A Casa Fechada
Vergílio Ferreira           – Contos


Crónicas, cartas, biografias, autobiografias, memórias, diários

António Lobo Antunes     – Livro de Crónicas   
António Alçada Baptista – Peregrinação Interior
Aquilino Ribeiro              – Abóboras no Telhado     
                                       – Geografia Sentimental
Artur Portela Filho          – A Nova Feira das Vaidades
Carlos de Oliveira          – O Aprendiz de Feiticeiro 
Fernando Namora          – A Nave de Pedra            
                                       – Diálogo em Setembro 
                                       – Cavalgada Cinzenta 
Fernando Pessoa           – Cartas de Amor de Fernando Pessoa    
José Gomes Ferreira      – A Memória das Palavras ( ou O Gosto de Falar de Mim)   
José Rodrigues Miguéis – Um Homem Sorri à Morte  
José Saramago               – Deste Mundo e do Outro
Maria Isabel Barreno     – Novas Cartas Portuguesas (escritas em colaboração com Maria
       Velho  da Costa e Maria Teresa Horta).   
Maria Judite Carvalho   – A Janela Fingida
Oliveira Martins            – A Vida de Nuno Álvares Pereira
                                      – O Príncipe Perfeito
Raul Brandão                – A Morte do Palhaço e o Mistério da Árvore    
                                      – Memórias
Ruben A.                       – O Outro Que Era Eu    
                                     – As Páginas
                                     – O Mundo à Minha Procura 


[A lista (e o resto do programa) pode ser consultada aqui nas páginas 15, 16 e 17]

domingo, 14 de novembro de 2010

CANTIGAS DE AMOR (cont.)

II. Causas da influência provençal na Península.

1        Os monges de Cluny - Antes ainda de Portugal se tomar independente estabeleceram-se na Península os monges de Cluny, sob cuja direcção espiritual ficaram no século XI quase todas as igrejas hispânicas. 
2        As romagens aos santuários - O principal motivo das deslocações da gente medieval consistia nas peregrinações aos santuários. Anualmente, os crentes da França dirigiam-se a Santiago de Compostela; e os de cá empreendiam idênticas jornadas de fé às terras de além-Pirenéus, a Tours e sobretudo a Santa Maria de Rocamadour. As viagens duravam meses; pelo caminho, os romeiros cantavam as modas da sua terra; em frente dos templos, faziam-se representações teatrais e autênticos torneios poéticos. 
3        Os guerreiros e colonos franceses - Os reis de Leão convidaram cavaleiros franceses para os ajudarem nas lutas contra os Mouros. O conde D. Henrique lá veio de além-Pirinéus e com ele muitos outros. Lisboa foi conquistada com o auxílio de cruzados nórdicos e da Gália. D. Afonso Henriques e sobretudo D. Sancho I, em reconhecimento de serviços prestados, distribuíram terras por muitos desses guerreiros, os quais por aqui espalharam os seus costumes e a sua cultura e civilização.
4        Contacto do fidalgos portugueses com jograis da Provença – Descontentes com o despotismo de D. Afonso II vários nobres portugueses abandonaram o país e foram acolher-se à corte de Afonso IX de Leão. 
5        O Bolonhês — D. Afonso III viveu em França durante doze anos. Quando veio assumir o trono de Portugal, fez-se acompanhar de mestres franceses, alguns dos quais educariam D. Dinis, futuro herdeiro da Coroa eonossomelhortrovadormedieval.
6        O comércio — No século XIII, os navios portugueses iam a França comprar panos; e navios franceses, nessa mesma época., entravam com frequência na barra do Douro. Os comerciantes e tripulantes lusos assimilavam e espalhavam depois a cultura estrangeira que, superior à portuguesa, os deslumbrava.

III. Onde se manifestou a influência provençal?

  • Nos provençalismos. Deparamos a cada passo nos cancioneiros com vocábulos originários da Provença: sen (senso), cor (coração), prez (valia, preço), greu (difícil), solaz (prazer),etc.
  • Na teoria do amor cortês. O amor provençal, chamado também amor cortês não tem como finalidade a união matrimonial dos apaixonados. Supõe mesmo a impossibilidade dessa união. É uma aspiração sem correspondência, que deve alimentar o estado de tensão que gera, a fim de se realizar plenamente e se perpetuar. Corteja-se a mulher casada e desta maneira, tal amor raras vezes passa de um fingimento intelectual. Essa mulher normalmente é uma «dona», senhora da corte e fidalga.
  • Na descrição da natureza – é uma natureza estereotipada e convencional.
  • Análise introspectiva – Nestas cantigas são analisados alguns estados de alma que passam despercebidos à naturalidade das de amigo: o doce-amargo do amor, o querer e não querer da vontade, contradições dos namorados, …

IV. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS «CANTIGAS DE AMOR»

1.      Os sentimentos eróticos que exprimem são os de homem. Enquanto nas cantigas de amigo é a mulher que abre o seu coração, nestas é o namorado que desfia as «coitas» de amor. Sendo dialogadas, é o homem que fala em primeiro lugar.
2.      Por influência do lirismo tradicional, algumas cantigas de amor estão dotadas de paralelismo imperfeito e semântico.
3.     Nas cantigas de mestria, há um formalismo que recorre a artifícios poéticos: dobre, mozdobre, finda, atafinda, ... 
4.      Estão repassadas de simbologia amorosa, bastante rica, por causa da teoria do amor cortês.
5.      Há nas nossas cantigas de amor menos fingimento e por conseguinte maior sinceridade do que nas composições provençais.
6.      Nota-se uma certa uniformidade na expressão e nos sentimentos, o que provoca inevitavelmente a monotonia temática.

[Adaptado de História da Literatura Portuguesa, Antº Barreiros, Pax editora, Braga]

CANTIGAS DEAMOR

I. Temática
a)      Têm como temática o amor cortês.
b)      As  cantigas de   amor   são uma espécie de  declaração amorosa  ou  lamento perante a dama pela sua indiferença ou altivez.
c)      A personagem protagonista é sempre a senhor, embora esta não seja sempre a destinatária da cantiga. A sua descrição é:
·         Psíquica,   o   trovador   descreve   especialmente   as  virtudes  do   seu comportamento.
·         Física, que se realiza só de modo genérico, não há referências ao tempo ou ao espaço já que é uma dama idealizada.
d) De acordo com Tavani podemos estabelecer os seguintes campos semânticos:
    • Elogio da dama: pode aparecer explícito ou implícito, mas é sempre positivo (frequentemente aparece como obra mestra de Deus - platonismo).
    • Amor do poeta: também pode aparecer explícito ou não e liga-se aos seguintes motivos:
Coita: um sentimento contraditório já que produz pesar, mas também certo prazer masoquista.
Desejo da morte por amor.
Reserva da dama: é sempre esquiva, tímida, discreta. 
Não correspondência do amor: está ligada à coita e à sintomatologia que produz o distanciamento da dama (insónia, pranto, loucura...). 



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

"Relatório"

Relatório do Projecto Individual de Leitura

Este relatório incide sobre a leitura da obra “A Vida Nova”, de Orhan Pamuk, que eu escolhi ler para o Projecto Individual de Leitura.

No caso concreto deste livro, já o tinha começado a ler no início de Setembro e estava à espera na prateleira da estante desde 2007, ano em que foi lá parar. Comecei com algum entusiasmo a sua leitura, não só porque a frase inicial (“Um dia li um livro e toda a minha vida mudou”) me abriu expectativas de ser um bom livro, mas também por razões afectivas uma vez que me foi oferecido por alguém especial e eu ainda não tinha tido tempo de o ler.

A leitura depressa se tornou intrigante e com algum interesse pois o autor abordava a experiência vivencial das pessoas em termos de meditação sobre os problemas comuns ao ser humano ("O que é a vida? O que é a morte? O que somos nós? Qual é a nossa identidade? O que é o Tempo e o Espaço? Qual é o significado disto tudo? O que é a Vida Nova? Existe tal coisa?") desde que ele se tornou um ser pensante. No entanto, à medida que a leitura avançava, perdia um pouco o ritmo já que os elementos da intriga se emaranhavam e era difícil manter a atenção de um dia para o outro a alguns pormenores. As interacções das personagens eram bastante intensas, mas um tudo ou nada confusas: só no fim percebi algumas afirmações feitas no desenrolar da narrativa. De qualquer maneira, cheguei ao fim em meados de Outubro e satisfeito por ter feito o investimento do tempo na sua leitura. É um livro que se lê facilmente em termos de vocabulário que é simples e sem muitos enfeites literários, mas a narrativa prende a atenção quase sempre com alguma intensidade.

Terminada a leitura preparei a apresentação do livro no dia xx, mas infelizmente a informática preparou-me uma partida e só foi possível fazer a apresentação no dia xx. Acho que correu bem pois na sala houve interesse generalizado e, mesmo sem ser possível pois uma apresentação tem de se fazer seguida sem interrupções, os alunos queriam realizar perguntas sobre aquilo que eu ia dizendo. Optei por uma apresentação em “powerpoint” que esquematizei conforme o combinado previamente para estas sessões e inseri além do texto algumas imagens relativas ao mapa da Turquia, à fotografia do autor, etc., e que atraíram as atenções dos ouvintes. Pus no “ppt” uma definição de amor que o autor conseguiu formular depois de ter transcrito uma série delas já batidas e bastante conhecidas: “O Amor é a necessidade de abraçar com muita força alguém e de querer estar sempre do seu lado. É o desejo de esquecer o mundo exterior quando se abraça esse alguém. É a necessidade de descobrir um refúgio seguro para a alma.”

Seguiu-se um período de “debate” sobre o livro e os seus temas e toda a gente deu a sua opinião. Interrogados se leriam o livro, motivados pela apresentação, a maioria disse que sim, se tivesse disponibilidade de tempo, porém alguns referiram que não era o tipo de leitura preferida pelo que não leriam, embora tivessem ficado sensibilizados e motivados para os temas. Fiquei contente com a reacção deles e senti que tinha atingido os meus objectivos, no entanto fiquei também com a sensação de que poderia ter feito melhor e é isso que vou tentar na apresentação do próximo livro.

O aspecto mais negativo acho que foi a dispersão, mas, sem querer desculpar-me, a culpa foi das perguntas que surgiram despropositadamente no meio da tarefa referida.


J M G M
25 Outubro 2010

"A VIDA NOVA" - Orhan Pamuk

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Dados biográficos:
Ferit Orhan Pamuk, conhecido apenas como Orhan Pamuk (Istambul, 7 de Junho, 1952), é um romancista turco.
Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 2006. É professor de literatura da Universidade Columbia. Pamuk é um dos mais proeminentes escritores da Turquia, e seus trabalhos foram traduzidos em mais de cinquentas línguas. Ganhou diversos prémios nacionais e internacionais. Em 12 de Outubro de 2006, tornou-se a primeira pessoa da Turquia a receber um Prémio Nobel.

Sinopse:
"Um dia li um livro e toda a minha vida mudou." Osman, um jovem universitário de Istambul, descreve assim o assombro da sua iniciação à idade adulta. A limpidez desta frase depressa revela, porém, o repto que é lançado ao leitor deste livro singular onde se sobrepõe, camada sobre camada, uma realidade estranha que parece raiar o absurdo. Obcecado pelo livro mágico, que lhe parece mostrar a sua própria vida num outro universo, Osman lê-o com fervor, noite após noite e apaixona-se pela lindíssima jovem, Janan, que é na realidade a pessoa que lhe revelara o livro.

Frase preferida:
“O Amor é a necessidade de abraçar com muita força alguém e de querer estar sempre do seu lado. É o desejo de esquecer o mundo exterior quando se abraça esse alguém. É a necessidade de descobrir um refúgio seguro para a alma.”

 


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