segunda-feira, 27 de junho de 2011

Exame de Literatura Portuguesa

Para os mais desatentos, lembro que foi hoje a prova de Literatura Portuguesa 1ª fase,que pode ser consultada aqui: http://cdn.gave.min-edu.pt/files/388/LitPort734_F1_11.pdf. Reparem no Grupo III - matéria de 10º ano!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Epigramas - Bocage

Homem de génio impaciente,
Tendo uma dor infernal,
Pedia para matar-se
Um veneno, ou um punhal.
"Não há (lhe disse um vizinho
Velho, que pensava bem)
Não há punhal, nem veneno;
Mas o médico ai vem.

****
Rechonchudo franciscano
Desenrolava um sermão;
E defronte por acaso
Lhe ficara um beberrão.
Tratava dos bens celestes,
Proferindo: "Ouvintes meus,
Que ditas, que imensa glória
Para os justos guarda um Deus!
Falsos, momentâneos gostos
Há neste mundo mesquinho:
Mas no Céu há bens sem conto...
Pergunta o bêbado: - "E vinho?"

Sátira

Cara de réu, com fumos de juiz,
Figura de presepe, ou de entremez,
Mal haja quem te sofre, e quem te fez,
Já que mordeste as décimas que fiz:
Hei-de pôr-te na testa um T com giz,
Por mais e mais pinotes, que tu dês;
E depois com dois murros, ou com três,
Acabrunhar-te os queixos, e o nariz:
Quem da cachola vã te inflama o gás,
E a abocanhares sílabas te induz,
Ó dos brutos e alarves capataz?
Nem sabes o A B C, pobre lapuz;
E pasmo de que, sendo um Satanás,
Com tinta faças o sinal da Cruz!
Bocage

Nascemos para Amar

Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

Bocage

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?


Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Bocage