quinta-feira, 8 de março de 2012

Dá a Surpresa de Ser

Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela tivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem Ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como ?

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

segunda-feira, 5 de março de 2012

FRAGAS - Projec~



Os laços de amor, mesmo os mais fortes, os de uma Mãe, duram para sempre? Pode um simples ser humano rejeitar o que o seu corpo criou e alimentou, alguém que a sua alma adorou durante anos, o seu sangue que não lhe corre nas veias? Conseguirá o tempo, imperador dos homens, romper as maiores raízes que o coração uniu? O Homem nem sempre nasce bom e a sociedade, boa ou má, nem sempre corrompe. Um filho de um jogo contemporâneo fugiu para bem longe das primitivas e jubiladas acções enformadas de honra e dignidade. Lá onde o rio trocou com as margens, o mar com a areia. Lá longe, onde o infinito não é o céu, mas o chão asfaltado que se calca. E Deus, não tem nada a ver com isto... As cores mirraram, restando agora as máquinas que, de uma, traçam milhentas. Os ventos foram sugados, restando o sopro dos valores jorrados em papel. A chuva já não visita, é visitada e o sol é culpado até prova em contrário. E o Homem, não tem nada a ver com isto.... João Neca  (http://www.tmg.com.pt/eventodetalhe.aspx?idevento=678)