domingo, 27 de novembro de 2011

FADO - Património Imaterial da Humanidade.

Amália cantou poemas de poetas portugueses e assim os divulgou: Camões, David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello e este de Alexandre O'Neill.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CANTIGAS SATÍRICAS


A nível da temática nacional poderemos destacar:
                   
                   - decadência do Clero;
                  - traição dos cavaleiros (muitas cantigas satíricas fizeram o comentário indignado ou humorístico à traição dos cavaleiros na guerra que opôs os cristãos aos muçulmanos que serviram os reis de Granada. Em 1264 os muçulmanos desde Cádis e Xerez até Múrcia revoltaram - se contra os cristãos. A insurreição era para temer, pois que de África tinham vindo fortes contingentes de tropa em auxílio dos rebeldes. Os cristãos temiam sobretudo os ginetes, cavaleiros oriundos do deserto, cuja mobilização e audácia deixaram de resto um eco na linguagem popular.
  O rei Afonso X, homem de grande cultura, mas de fraco poder combativo, pediu ajuda aos nobres para a contenção da rebelião. Porém, muitos ricos - homens e infanções, em vez de o ajudarem com os seus cavaleiros, faltaram ao seu dever de vassalos. Não admira, pois, que o rei se sentisse traído. Ele próprio e outros trovadores dirigiram violentos sirventeses contra os traidores. Também não admira que os muçulmanos tenham derrotado os cristãos.
                  - decadência da fidalguia ( a fidalguia ao abrigo dos seus forais, que lhes garantiam as liberdades protegidos pelos reis, buscavam abater a Nobreza de sangue, os centros de vida  burguesa prosperavam enquanto as classes privilegiadas, os infanções e até ricos homens, vegetavam, necessitando de acostar - se à munificência régia e até mesmo à generosidade dos municípios. Os infanções são os mais atingidos. O exemplo mais acabado é o do cavaleiro famélico cujas refeições demasiado frugais ou até inexistentes revelam à evidência a grave crise económica por que passavam as classes nobres. Gil Vicente, no séc. XVI, tratará ainda, de forma penetrante, o escudeiro faminto, mas gabarola que só sai de noite a fazer serenatas, para não ser vista a sua roupa rota e velha, mas mesmo assim mantendo criados ao seu serviço, na tentativa de aliciar raparigas com algumas posses para, casando com elas, sobreviver ("Foi um dia Lopo jograr").
          - entrega dos castelos ao conde de Bolonha (estas sátiras referem- se à traição dos alcaides que, apesar da fidelidade jurada ao rei D. Sancho II durante a guerra civil que o opôs ao irmão, futuro D. Afonso III, entregaram os castelos ao Bolonhês.
          - a polémica entre trovadores fidalgos e jograis;
          - ridicularização do amor cortês ("Ai ! Dona fea, foste- vos queixar"-  Joan Garcia de Guilhade);
          - escândalos sociais;
          - desconcerto do mundo ( reflexão crítica, penetrada de amargura, suscitada pela decadência de costumes, o que se traduz numa visão pessimista e desencantada : é o tema do "mundo às avessas", em que a mudança é sempre interpretada para pior:( "Vejo eu as gentes andar revolvendo" - Pero Mafaldo;  "Amigos, cui'eu que Nostro Senhor" - Martim Moia).

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Direi-vos que mi aveo, mia senhor,
i logo quando m'eu de vós quitei:
houve por vós, fremosa mia senhor,
a morrer; e morrera... mais cuidei
     que nunca vos veeria des i
     se morress'... e por esto nom morri. 

Cuidand'em quanto vos Deus fez de bem
em parecer e em mui bem falar
,morrera eu; mais polo mui gram bem
que vos quero, mais me fez Deus cuidar 
     que nunca vos veeria des i 
     se morress'... e por esto nom morri.

Cuidand'em vosso mui bom parecer
houv'a morrer, assi Deus me perdom,
e polo vosso mui bom parecer
morrera eu; mais acordei-m'entom 
     que nunca vos veeria des i 
     se morress'... e por esto nom morri. 

Cuidand'em vós houv'a morrer assi!
E cuidand'em vós, senhor, guareci!

Rui Queimado

A dona que eu amo ...

A dona que eu am'e tenho por senhor
amostrade-mi-a, Deus, se vos en prazer for,
     senom dade-mi a morte.

A que tenh'eu por lume destes olhos meus
e por que choram sempr', amostrade-mi-a, Deus,
     senom dade-mi a morte.

Essa que vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ai, Deus!, fazede-mi-a veer,
     senom dade-mi a morte.

Ai Deus! que mi a fezestes mais ca mim amar,
mostrade-mi-a, u possa com ela falar,
     senom dade-mi a morte.

Bernal de Bonaval

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Passou o outono ...

Passou o outono já, já torna o frio...
- Outono de seu riso magoado.
Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado...
- O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio,
Fugindo sob o meu olhar cansado,
Para onde me levais meu vão cuidado?
Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando,
E, debaixo das águas fugidias,
Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?
- E, refratadas, longamente ondeando,
As suas mãos translúcidas e frias...

Camilo Pessanha

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Um Auto de Gil Vicente

Drama histórico da autoria de Almeida Garrett, representado pela primeira vez em agosto de 1838, no Teatro da Rua dos Condes, e publicado posteriormente em volume. No prefácio teórico do autor, este debate o problema do declínio da arte dramática em Portugal e defende a urgência de se fazer ressuscitar o teatro nacional, projeto a que a obra se encontra concretamente ligada: "o drama de Gil Vicente que tomei para título deste não é um episódio, é o assunto mesmo do meu drama; é o ponto em que se enlaça e do qual se desenlaça depois a ação; (...) Mas eu não quis só fazer um drama, sim um drama de outro drama, e ressuscitar Gil Vicente a ver se ressuscitava o teatro".
Nesta peça, evoca-se a corte de D. Manuel I e as duas grandes individualidades literárias que nela evoluíram: Bernardim Ribeiro (representante da poesia aristocrática) e Gil Vicente (defensor do teatro). Garrett conseguiu, assim, a proeza de abordar o Teatro através do teatro, tendo como pano de fundo os ensaios para a peça Cortes de Júpiter, escrita por Gil Vicente para celebrar a partida da Infanta D. Beatriz para Saboia, onde se casaria com Carlos III.

A peça é dividida em três atos, sendo que cada um se desenrola num espaço diferente. O primeiro passa-se em Sintra onde Pero Çafio, um dos frequentes atores das peças de Gil Vicente, ensaia a sua participação nas Cortes de Júpiter. É então que surge Bernardim Ribeiro a quem Çafio confidencia que durante a representação, uma moura de nome Taes, envergando uma máscara, entregaria um anel a D. Beatriz. Bernardim, apaixonado por D. Beatriz, arquiteta o plano de assumir a personagem de Taes para se poder aproximar da Infanta. No mesmo ato, contracenam Paula Vicente e Dona Beatriz, confessando esta última o grande amor que nutre pelo poeta de Menina e Moça. No segundo ato, desenrolado nos Paços da Ribeira, assistem-se aos preparativos da representação: Gil Vicente e Paula Vicente não gostam do ensaio de Joana do Taco, destacada para interpretar Taes. Bernardim aparece disfarçado e pede para falar com Gil Vicente, pedindo-lhe o papel da moura. Mediante a interferência de Paula, Gil acede. Inicia-se a apresentação da peça com a presença de D. Manuel I e dos altos dignatários da Corte, entre os quais Garcia de Resende. Quando Bernardim entra em cena, modifica as falas da moura, conferindo-lhes um grande lirismo. O Rei percebe que se trata de Bernardim e manda interromper a representação, retirando-se com enfado, sem se aperceber que D. Beatriz tinha desmaiado. O terceiro ato passa-se a bordo do Galeão Santa Catarina que levará a Infanta ao seu destino. D. Manuel vem despedir-se da sua filha e traz consigo Chatel, o seu Secretário, que demonstra algumas desconfianças sobre a postura da Infanta. Por intermédio de Paula Vicente, Bernardim consegue visitar D.Beatriz a quem declara o seu amor.
[retirado de: http://www.infopedia.pt/$um-auto-de-gil-vicente ]

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

António Nobre

A Poezia do Outomno

Noitinha. O sol, qual brigue em chammas, morre
Nos longes d'agoa... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poezia escorre
E os bardos, a sonhar, molham a penna!

Ao longe, os rios de agoas prateadas
Por entre os verdes cannaviaes, esguios,
São como estradas liquidas, e as estradas
Ao luar, parecem verdadeiros rios!

Os choupos nus, tremendo, arripiadinhos,
O chale pedem a quem vae passando...
E nos seus leitos nupciaes, os ninhos,
As lavandiscas noivam piando, piando!

O orvalho cae do céu, como um unguento.
Abrem as boccas, aparando-o, os goivos...
E a larangeira, aos repellões do vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.

E o orvalho cae... E, á falta d'agoa, rega
O val sem fruto, a terra arida e nua!
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega
O seu Sermão de Lagrymas, á Lua!

Tardes de outomno! ó tardes de novena!
Outubro! Mez de Maio, na lareira!
Tardes...  
             Lá vem a Lua, gratiae plena,
Do convento dos céus, a eterna freira!

António Nobre, in 'Só'

Camilo Pessanha

Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?


Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!


E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...


Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze _quanta flor! _do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

Camilo Pessanha

Foi um dia de inúteis agonias.
Dia de sol, inundado de sol!...
Fulgiam nuas as espadas frias...
Dia de sol, inundado de sol!...

Foi um dia de falsas alegrias.
Dália a esfolhar-se – o seu mole sorriso...
Voltavam os ranchos das romarias.
Dália a esfolhar-se – o seu mole sorriso...

Dia impressível mais que os outros dias.
Tão lúcido... Tão pálido... Tão lúcido!...
Difuso de teoremas, de teorias...

O dia fútil mais que os outros dias!
Minuete de discretas ironias...
Tão lúcido... Tão pálido... Tão lúcido!...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lírica Medieval

Para quem tiver curiosidade em conhecer mais cantigas dos vários subgéneros, encontra aqui um grande número. Tem inclusivamente muitas cantigas musicadas

Cantigas de amor

Cantigas de amor

I. Temática
Têm como temática o amor, do mesmo modo que as cantigas de amigo, mas observa-se mais aristocracia no tom e na forma.
As  cantigas de   amor   estruturam-se  como  declaração amorosa  ou  lamento perante a dama pela sua indiferença ou altivez.
A personagem protagonista é sempre a senhor, embora esta não seja sempre a destinatária da cantiga. A descrição da senhor é:
Psíquica,   o   trovador   descreve   especialmente   as  virtudes  do   seu
                        comportamento.
 Física, que se realiza só de modo genérico. Ademais, não há referências ao tempo ou ao espaço já que é uma dama abstracta.
d) Tavani estabelece os seguintes campos semânticos:
    • Elogio da dama: pode aparecer explícito ou implícito, mas é sempre positivo (frequentemente aparece como obra mestra de Deus).
    • Amor do poeta: também pode aparecer explícito ou não e liga-se aos seguintes motivos:
 Coita, sempre presente na lírica galego-portuguesa. Vê-se como um sentimento contraditório já que produz pesar, mas também certo prazer masoquista.
Desejo da morte por amor.
Reserva da dama: é sempre esquiva, tímida, discreta. Não se menciona o seu nome, pelo que isto também está relacionado com a mesura.
Não correspondência do amor: está ligada à coita e à sintomatologia que produz o distanciamento da dama (insónia, pranto, loucura...). Expressa-se por meio de fórmulas estereotipadas.
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II. Causas da influência provençal na Península.

1. Os monges de Cluny - Antes ainda de Portugal se tomar independente estabeleceram-se na Península os monges de Cluny, sob cuja direcção espiritual ficaram no século XI quase todas as igrejas hispânicas. Obtiveram muito cedo forte ascendente na corte de Afonso VI de Leão e não resta dúvida de que deixaram por cá vestígios da sua passagem, pelo menos na arquitectura. Devem ter influído igualmente nas letras. Entre outros, celebrizaram-se em Portugal S. Geraldo e o seu biógrafo Fr. Bernardo.
2. As romagens aos santuários - O principal motivo das deslocações da gente medieval consistia nas peregrinações aos santuários. Por causa da devoção aos servos de Deus, mais do que por causa do comércio e das campanhas militares, é que as pessoas jornadeavam então de terra em terra, de nação em nação. Anualmente, os crentes da França, qual formigueiro nervoso, dirigiam-se a Santiago de Compostela; e os de cá empreendiam idênticas jornadas de fé às terras de além-Pirenéus, a Tours e sobretudo a Santa Maria de Rocamadour. As viagens duravam meses; pelo caminho, os romeiros cantavam as modas da sua terra; em frente dos templos, faziam-se representações teatrais e autênticos torneios poéticos. Desta maneira, as culturas iam-se disseminando ao longe e ao largo. É natural, por exemplo, que muitos trovadores gauleses tenham deliciado os aborígenes da Galiza com cantares provençais, alguns até cheios de sensualismo pagão, a contrastar com a penitência e santidade próprias dos bons romeiros.
2. Os guerreiros e colonos franceses - Os reis de Leão convidaram cavaleiros franceses para os ajudarem nas lutas contra os Mouros. O conde D. Henrique lá veio de além-Pirinéus e com ele muitos outros.
Lisboa foi conquistada com o auxílio de cruzados nórdicos e da Gália. D. Afonso Henriques e sobretudo D. Sancho I, em reconhecimento de serviços prestados, distribuíram terras por muitos desses guerreiros, os quais por aqui espalharam os seus costumes e a sua cultura e civilização.
3. Contacto dos fidalgos portugueses com jograis da Provença – Descontentes com o
despotismo de D. Afonso II vários nobres portugueses abandonaram o país e foram acolher-se à corte de Afonso IX de Leão. Conhecemos o nome de alguns que lá se deixaram enredar pelo encanto das musas: D. Gil Sanches, D. Abril Peres, D. Garcia Mendes. Poetavam então nessa corte conhecidos trovadores franceses que os nossos procuravam imitar. Os contactos continuaram nos reinados de Fernando III e Afonso X.
4. O Bolonhês — D. Afonso III viveu em França durante doze anos. Quando veio sentar-se no trono de Portugal, fez-se acompanhar de mestres franceses, alguns dos quais educariam D. Dinis, futuro herdeiro da Coroa e, sem dúvida, o nosso mais prolífero trovador.
5. O comércio — No século XIII, os navios portugueses iam a França comprar panos; e navios franceses, nessa mesma época, entravam com frequência na barra do Douro. Os comerciantes e tripulantes lusos assimilavam e espalhavam depois a cultura estrangeira que, superior à portuguesa, os deslumbrava.

III. Onde se manifestou a influência provençal?

  • Nos provençalismos. Deparamos a cada passo nos cancioneiros com vocábulos originários da Provença: sen (senso), cor (coração), prez (valia, preço), greu (difícil), mege (médico), maloutia (doença), solaz (prazer), fiz (certo), eire (ontem), etc.
  • Na teoria do amor cortês. O amor provençal, chamado também amor cortês, é diferente do amor que se exprime nas cantigas de amigo. Este tem o casamento como fim último. Daí o verificar-se apenas entre rapariga e rapaz solteiros. Ao contrário, o amor cortês não tem como finalidade a união matrimonial dos apaixonados. Supõe mesmo a impossibilidade dessa união. É uma aspiração sem correspondência, que deve alimentar o estado de tensão que gera, a fim de se realizar plenamente e se perpetuar. Corteja-se a mulher casada e desta maneira, tal amor raras vezes passa de um fingimento intelectual. Essa mulher normalmente é uma «dona», senhora da corte e fidalga.
  • Na descrição da natureza – é uma natureza estereotipada e convencional.
  • Análise introspectiva – Nestas cantigas são analisados alguns estados de alma que passam despercebidos à naturalidade das de amigo: o doce-amargo do amor, o querer e não querer da vontade, contradições dos namorados, …

IV. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS «CANTIGAS DE AMOR»

 1. Os sentimentos eróticos que exprimem são os de homem. Enquanto nas cantigas de amigo é a mulher que abre o seu coração, nestas é o namorado que desfia as «coitas» de amor. Sendo dialogadas, é o homem que fala em primeiro lugar.
2. Por influência do lirismo tradicional, algumas cantigas de amor estão dotadas de paralelismo imperfeito e semântico.
3. Possuem algumas um variado e complicado formalismo estilístico. Nas canções de mestria, esse formalismo (dobre, mozdobre, macho e fêmea) vai abrindo caminho para os malabarismos estilísticos afectados da poesia do Cancioneiro Geral e da dos períodos maneirista e barroco.
4. Estão repassadas de simbologia amorosa, bastante rica, por causa da teoria do amor cortês.
5. Há nas nossas cantigas de amor menos fingimento e por conseguinte maior sinceridade do que nas composições provençais.
6. Nota-se uma certa uniformidade na expressão e nos sentimentos, o que desanda inevitavelmente na monotonia temática.