II. Causas da influência provençal na Península.
1 Os monges de Cluny - Antes ainda de Portugal se tomar independente estabeleceram-se na Península os monges de Cluny, sob cuja direcção espiritual ficaram no século XI quase todas as igrejas hispânicas.
2 As romagens aos santuários - O principal motivo das deslocações da gente medieval consistia nas peregrinações aos santuários. Anualmente, os crentes da França dirigiam-se a Santiago de Compostela; e os de cá empreendiam idênticas jornadas de fé às terras de além-Pirenéus, a Tours e sobretudo a Santa Maria de Rocamadour. As viagens duravam meses; pelo caminho, os romeiros cantavam as modas da sua terra; em frente dos templos, faziam-se representações teatrais e autênticos torneios poéticos.
3 Os guerreiros e colonos franceses - Os reis de Leão convidaram cavaleiros franceses para os ajudarem nas lutas contra os Mouros. O conde D. Henrique lá veio de além-Pirinéus e com ele muitos outros. Lisboa foi conquistada com o auxílio de cruzados nórdicos e da Gália. D. Afonso Henriques e sobretudo D. Sancho I, em reconhecimento de serviços prestados, distribuíram terras por muitos desses guerreiros, os quais por aqui espalharam os seus costumes e a sua cultura e civilização.
4 Contacto do fidalgos portugueses com jograis da Provença – Descontentes com o despotismo de D. Afonso II vários nobres portugueses abandonaram o país e foram acolher-se à corte de Afonso IX de Leão.
5 O Bolonhês — D. Afonso III viveu em França durante doze anos. Quando veio assumir o trono de Portugal, fez-se acompanhar de mestres franceses, alguns dos quais educariam D. Dinis, futuro herdeiro da Coroa eonossomelhortrovadormedieval.
6 O comércio — No século XIII, os navios portugueses iam a França comprar panos; e navios franceses, nessa mesma época., entravam com frequência na barra do Douro. Os comerciantes e tripulantes lusos assimilavam e espalhavam depois a cultura estrangeira que, superior à portuguesa, os deslumbrava.
III. Onde se manifestou a influência provençal?
- Nos provençalismos. Deparamos a cada passo nos cancioneiros com vocábulos originários da Provença: sen (senso), cor (coração), prez (valia, preço), greu (difícil), solaz (prazer),etc.
- Na teoria do amor cortês. O amor provençal, chamado também amor cortês não tem como finalidade a união matrimonial dos apaixonados. Supõe mesmo a impossibilidade dessa união. É uma aspiração sem correspondência, que deve alimentar o estado de tensão que gera, a fim de se realizar plenamente e se perpetuar. Corteja-se a mulher casada e desta maneira, tal amor raras vezes passa de um fingimento intelectual. Essa mulher normalmente é uma «dona», senhora da corte e fidalga.
- Na descrição da natureza – é uma natureza estereotipada e convencional.
- Análise introspectiva – Nestas cantigas são analisados alguns estados de alma que passam despercebidos à naturalidade das de amigo: o doce-amargo do amor, o querer e não querer da vontade, contradições dos namorados, …
IV. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS «CANTIGAS DE AMOR»
1. Os sentimentos eróticos que exprimem são os de homem. Enquanto nas cantigas de amigo é a mulher que abre o seu coração, nestas é o namorado que desfia as «coitas» de amor. Sendo dialogadas, é o homem que fala em primeiro lugar.
2. Por influência do lirismo tradicional, algumas cantigas de amor estão dotadas de paralelismo imperfeito e semântico.
3. Nas cantigas de mestria, há um formalismo que recorre a artifícios poéticos: dobre, mozdobre, finda, atafinda, ...
4. Estão repassadas de simbologia amorosa, bastante rica, por causa da teoria do amor cortês.
5. Há nas nossas cantigas de amor menos fingimento e por conseguinte maior sinceridade do que nas composições provençais.
6. Nota-se uma certa uniformidade na expressão e nos sentimentos, o que provoca inevitavelmente a monotonia temática.
[Adaptado de História da Literatura Portuguesa, Antº Barreiros, Pax editora, Braga]
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