segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pré-Romantismo

Época literária (primeiro quartel do século XIX) caracterizada pelo surgimento de manifestações que viriam a caracterizar o movimento romântico (por exemplo: o fatalismo; a busca do isolamento; a hiperbolização do sofrimento; a obsessão da morte), sendo, desta forma, considerada de preparação para a corrente artística que se avizinhava. Não podemos dizer que existiu um movimento literário, mas, sim, manifestações e aspetos que acusam o dealbar do Romantismo, o qual se afirmará em 1825. Haja, embora, em alguns poetas do século XVIII uma declarada sensibilidade pré-romântica, esta assume vertentes várias em José Anastácio da Cunha e o instinto tocando as raias do erotismo a anunciar Garrett, o poeta das Folhas Caídas; em João Xavier de Matos, no qual o Neoclassicismo ainda comanda o sentimento, em Tomás António Gonzaga com um amor de sentidos delicados com toques de espiritualidade, em Bocage, na Marquesa de Alorna... Por isso, estamos mais na presença de pré-românticos do que de um movimento genérico, uno. Refiram-se, no entanto, algumas características nestes poetas precursores do Romantismo: o fatalismo (evidente em Bocage) que conduz à tristeza, por vezes, ao desespero; a busca do isolamento e de uma natureza nublada, lúgubre (o "locus horrendus" em perspetiva); a noite com a paisagem sepulcral do mocho sobre o "agoireiro cipreste", a hiperbolização do sofrimento provocado pelo ciúme, pela saudade, pela desconfiança; um evidente choque psicológico entre a razão (que comandava o sentimento clássico) e o coração (confirmando o pensamento de Pascal: «O Coração tem razões que a Razão desconhece»), a obsessão da morte completa o quadro sombrio de uma produção literária na qual um pessoalismo desbordante faz brotar algumas cambiantes românticas. Esta poesia sai dos outeiros e das assembleias e improvisa (Bocage) ou oferece-se aos frequentadores de cafés e botequins. É uma poesia que recebe cunho mais pessoal, quer como veículo do pensamento científico (Marquesa de Alorna), quer como expressão do sentimento (marcada pelas tonalidades anunciadoras do Romantismo), quer como fotografia colorida e animada do viver de uma sociedade, que passa perante nós em curiosos clichés, mesmo já na poesia dos árcades como vemos em Cruz e Silva e Correia Garção. Mas é na produção poética dos chamados dissidentes, precursores do Romantismo, que essa poesia ganha volume e afirma a certeza de que o Classicismo, com todas as suas excelências, fora, finalmente, ultrapassado por um individualismo irrequieto e ansioso que se não conformava já com os padrões que fizeram exageradamente uma época que se arrastara através de três séculos. E foi, possivelmente, o contacto direto com a literatura dos nórdicos, nas abundantes traduções feitas por Bocage, Filinto Elísio e pela Marquesa de Alorna, que propiciou essa forma de expressão necessária para a tradução de estados de alma que, só depois disso, se mostraram, inteiramente, em verdadeira radiografia espiritual.

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