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Os Porquês do Amor
Céu, porque tão convulso e consternado
Me bate, ao vê-la, o coração no peito?
Porque pasma entre os beiços congelado,
Indo a falar-lhe, o tímido conceito?
Porque nas áureas ondas engolfado
Da caudalosa trança, inda que afeito,
Me naufraga o juízo embelezado,
E em ternura suavíssima desfeito?
Porque a luz dos seus olhos, tão activa,
Por lânguida inda mais encantadora,
Me cega, e por a ver, ansioso, clamo?
Porque da mão nevada sai tão viva
Chama, que me electriza e me devora?
Os mesmos meus porquês me dizem: - Amo!
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Ondeados, lindíssimos cabelos,
Um rosto encantador, enamorado,
Em cada face um pomo sazonado
Das purpúreas flores são modelos.
Um rosto encantador, enamorado,
Em cada face um pomo sazonado
Das purpúreas flores são modelos.
Um meigo coração que faz ter zelos
Ao coração mais terno e sossegado;
Uma voz carinhosa, um doce agrado,
Um riso natural, uns dentes belos.
Ao coração mais terno e sossegado;
Uma voz carinhosa, um doce agrado,
Um riso natural, uns dentes belos.
Tudo possui Marfida! Oh! quem pudera,
Doces prisões rompendo do segredo,
Explicar-te a paixão que na alma impera.
Enfim, voltar-se a voz... mas, oh! que medo,
De mais um desengano que me espera,
Mais imóvel me deixa que um rochedo.
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