domingo, 22 de maio de 2011

Neoclassicismo

Movimento literário, derivado do espírito crítico do Iluminismo, que visa à reabilitação e restauração dos géneros, das formas, das técnicas e da expressão clássicas, que vingaram em Portugal no séc. XVI. Esta renovação faz-se acompanhar duma severa disciplina estética e dum purismo estreme, que procura libertar a língua de termos espúrios, restituindo-lhe uma sobriedade castiça e o rigor de sentido. Os primeiros indícios deste interesse por problemas de preceptiva literária e linguística aparecem logo no limiar do séc. XVII e vão-se acentuando progressivamente até ganharem a força de uma corrente contra os excessos e exageros do barroco, no séc. XVIII. (...) O Neoclassicismo vai actuar, portanto, em dois sectores capitais: o da doutrinação estética e o da criação literária. O primeiro é fortemente orientado pelo racionalismo mecanicista, evidenciado no VERDADEIRO MÉTODO DE ESTUDAR (1746) de Verney e, por ex., nas ENFERMIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA (1759) de Manuel José de Paiva.
(...) O mais documentado teórico do movimento foi, porém, Francisco José Freire, «Cândido Lusitano» (1719-1773), que elaborou uma ARTE POÉTICA (1748) e ainda um DICIONÁRIO POÉTICO (1765) e REFLEXÕES SOBRE A LÍNGUA PORTGUESA (1842). (...) A revalidação crítica das letras nacionais prossegue vivamente por todo o séc. XVIII, sob o signo do neoclassicismo, e é apoiada por uma vaga de traduções de autores greco-latinos, particularmente os latinos, sendo de realçar, entre mais de dez versões da ARTE POÉTICA de Horácio, as que foram feitas por Francisco José Freire e pelo Dr. Lima Leitão. (...) Ora deste vasto mar de teorias é possível fazer uma rapidíssima síntese das normas estéticas que enformam o neoclassicismo: a) condenação do barroco nas suas formas de cultismo e conceptismo; b) a Arte deve ser concebida como imitação da natureza (Aristóteles); c) a rima deve ser abolida (Garção e, na sua peugada, Filinto) por constituir uma constrição para o pensamento e para o verso; d) toda a literatura obedece a um fim ético e moral e a forma deve manter perfeita harmonia de valores verbais e o equilíbrio entre a razão e o sentimento.
O poderoso agente institucional da formação e fixação do gosto neoclássico foi a ARCÁDIA LUSITANA ou OLISSIPONENSE, fundada em 1757. Todavia no domínio da criação literária nem sempre a posição teórica do arcadismo é devidamente respeitada. É o que sucede com o receituário mitológico, condenado por Verney e Cândido Lusitano, e a que Cruz e Silva recorreu. (...)
(Rebelo, Luís de Sousa, DICIONÁRIO DE LITERATURA, 3ª edição, 3º volume)

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